Margaret Marchiori Bakos
Meus estimados alunos, hoje estou em condições de responder uma pergunta que me foi feita na última aula, acrescentando mais algumas informações sobre o escritor Antoine de Saint-Exupéry. Uma frase, no seu livro Voo Noturno, editado em 1931, nos faz saber que O escritor francês, que escreveu um dos livros mais vendidos do mundo, O Pequeno Príncipe, esteve realmente em Porto Alegre.
Conta-se, ainda, que ele teria tomado banho no rio Gravataí e, para orgulho dos mais bairristas, até saboreado um churrasco gaúcho. Ainda temos o testemunho do jornalista, escritor e advogado Nilo Ruschel, no livro Rua da Praia, que escreveu tê-lo visto tomando uma hidrolitol, espécie de refrigerante, num café da Rua dos Andradas.
Antoine-Marie-Roger de Saint-Exupéry nasceu em Lyon, em 29 de junho de 1900. Era o terceiro filho do Conde Saint-Exupéry e da Condessa Marie Fascolombe, uma família aristocrática empobrecida. Com a mãe, ele tinha forte ligação afetiva e esperava sempre pelo seu beijo de boa-noite antes de dormir.
Segundo as recriminações de sua irmã mais velha, Simone, Antoine não levava nada a sério. Sempre alegre. Chorava, no entanto, quando as flores congelavam ou na morte de algum animal. Escreveu e compôs diários ilustrados. É ela que apelidou o irmão de “ Rei Sol”, por seus cabelos loiros.
Como não era rico herdeiro, precisava trabalhar para ganhar a vida. Com menos de vinte e um anos, conseguiu o brevê e tornou-se piloto militar e civil. Em 1926, foi contratado pela empresa de correio aéreo Latécoère, em Toulouse.
Entretanto, a educação sofisticada e esmerada que recebeu, em família, encaminhou Saint-Exupéry também para a arte de escrever. De forma inusitada, à época, ele tornou-se conhecido como o poeta da aviação.
Três tópicos delinearam sua vida: a sua paixão pela aviação, pela literatura e pela esposa, além do seu destemor, que o fez perder a vida.

Imagem: antoinedesaintexupery.com
Aventureiro, desde 1927, Saint-Exupéry fazia parte de um grupo de pilotos franceses que, além de correio, também levava passageiros em suas viagens. Em 16 de abril de 1930, o seu avião foi pingando desde Montevidéu, para Pelotas, Porto Alegre, Florianópolis, – onde pernoitaram porque chovia muito. Com isso, diz-se que ele inventou a aviação turística.
Tinha 29 anos quando desembarcou pela primeira vez na América do Sul. Permaneceu nos voos do tráfego do correio aéreo, até março de 1931, quando a empresa fechou e, mais tarde, foi aglutinada a outras empresas francesas, resultando na Air France.
Por trás desta trama atribulada, há uma história de amor que poucos conhecem. Nascida em El Salvador, Consuelo Suncín-Sandoval Zeceña foi a mulher que conquistou o escritor com tanta intensidade que se tornou sua rosa, presente no Pequeno Príncipe. Conta-se que ela inspirou Saint-Exupéry a voltar à literatura e, finalmente, a escrever este best seller, que teria sido um pedido de desculpas a ela pelas vida dissoluta e as inúmeras amantes, ao longo de sua união de quinze anos.
Com certeza, tantas memórias aterrissavam nas páginas que ele escrevia sofregamente. No quinto capítulo de O Pequeno Príncipe, aparece o acendedor de lampiões, talvez inspirado nos primeiros voos noturnos no Brasil, que não tinham luzes nas pistas, mas moradores e pescadores os recebiam com tochas acesas.
Além daqueles acidentes, em que ele saia dizendo que não foi nada, tirando a poeira da roupa, Saint-Exupéry passou por sérios problemas aéreos. Em 31 de julho de 1944, Saint Exupéry partiu da Ilha de Córsega em um avião Lockheed Lightning P-38, num voo de reconhecimento do território inimigo, quando foi abatido. Horst Rippert assumiu ser o autor dos tiros responsáveis pela queda do avião de Antoine e disse ter lamentado a morte dele. Quando jovem, Hippert, idolatrava Exupéry e já havia devorado todos seus livros, começando por Southern Mail, de 1929, um conto de aventura. Declarou, anos mais tarde: Eu só soube depois que era Saint-Exupéry. Eu queria que não tivesse acontecido. Todos os jovens da minha geração leram seus livros e nós o adorávamos ele.
Em 1998, um pescador de Marselha localizou uma pulseira prateada com o nome do escritor e de sua mulher, Consuelo. Um arqueólogo submarino iniciou uma busca aos possíveis restos da aeronave de Saint-Exupéry. De fato, uma década mais tarde, os localizaria. Hoje, parte do avião está exposta em museu, na cidade de Bourget.
Sabe-se que O Pequeno Príncipe desejava voltar para o lugar de onde veio, sem o corpo, ou seja, em espírito. E Saint-Exupéry também tinha esse desejo espiritual, pulsante e latente, como confessou em livros e cartas.
Assim, podemos todos juntos ao final desta aula transmitir-lhe uma mensagem que é minha e de todos vocês: Sossega, Antoine de Saint-Exupéry; quanto a Porto Alegre, tu sempre serás lembrado por nós.
Parabens pelo texto sobre o escritor A Saint Exupery. Adorei conhecer um pouco sobre sua vida e passagem por Porto Alegre. Como estamos no Campeche, onde mora a Anelise, e sei q ele pousou na ilha aqui. Inclusive a Av principal tem o o seu nome, me interessei em ler o teu artigo. Bjos